1-6 - 95-11-24-ah- ac dos projectos - domingo, 9 de Fevereiro de 2003-novo word - 9744 caracteres - ses-1-ses=silencios e silenciamentos
SILÊNCIOS & SILENCIAMENTOS
TEMAS DE NOTÍCIA EM 1980 (ACTUAIS EM 1995)
REGRESSOS AO PAÍS ESQUECIDO
24-11-1995
RECURSOS MINERAIS - A Shell só levará volfrâmio e estanho, a fazer fé no que se tornou público sobre o acordo entre esta multinacional e o Ministro da Indústria, Álvaro Barreto. Quartzo e produtos radioactivos excluem-se do contrato.
2.000 quilómetros quadrados (abrangendo os concelhos de Bragança, Vimioso, Miranda do Douro e Macedo de Cavaleiros ) ficam à disposição da empresa Shell que irá explorar os recursos minerais portugueses.
Tudo isto ou apenas isto foi público em
22/Julho/1980.
Quinze anos volvidos:
Onde está o projecto? Qual o balanço da actividade da Shell? Caducou? Esqueceu? Caiu no silêncio?
Ver semanário «Voz do Povo» e Cronologia AC (22/7/1980)
RECURSOS PETROLÍFEROS - A prospecção petrolífera tem acompanhado os anos subsequentes ao 25 de Abril, com quase tanta persistência e carinho como a senhora do FMI.
Os planos de prospecção inserem-se na vasta lista de «megalomanias» que, de Salazar a Guterres, temos estoicamente suportado e pago, com língua de palmo.
Em
12/Dezembro/1980, por exemplo, a Petrogal voltava à carga com a «prospecção sísmica das jazidas petrolíferas», que ela teima em descbrir: não poupa assim os concelhos de Torres Vedras, Arruda, Sobral, Alenquer, Vila Franca de Xira, Loures, Barreiro e Moita.
O País, ansioso, espera que alguém diga, 15 anos depois, como vão essas prospecções, pois também as pagou do seu bolso.
Continuam? Encontraram petróleo? Está no segredo dos deuses e das multinacionais? Foi só uma prospecção de interesse turístico? Quem guarda este dossier e quem superintende neste plano?
PLANO SIDERÚRGICO E DOURO NAVEGÁVEL - Outro plano grandioso de que nunca mais se disse uma palavra, embora a campanha estivesse no auge em 1980, foi o projecto do Douro navegável. A radioactividade provinda da futura central nuclear de Sayago, a 12 Km de Miranda do Douro, não constituiria nunca impedimento de que o Douro se tornasse navegável e muito menos o facto de o Plano Siderúrgico ter morrido na casca (ou não morreu? Para o bem e para o mal, que é feito do Plano Siderúrgico?).
Nesse ano, Moncorvo teimava e dizia que ia mandar, rio Douro abaixo, o minério de ferro. Segundo um colóquio do IST sobre o Plano Siderúrgico, as mais iminentes autoridades classificaram o projecto Douroviário como uma peluda ficção de cabecinhas louras/loucas.
Pelo silêncio de que tem sido rodeado, ou já está quase pronto para Guterres inaugurar, ou ainda nem sequer foi começado. O que também é notícia.
Adormeceu. Mas deixou acordados muitos portugueses, a gritaria que se fez em 1980 sobre o Douro e sua navegabilidade, plano que vinha na onda de um plano ainda mais vasto e que respeitava à febre chamada «vias rápidas». Com o cavaquismo, venceu o asfalto e o betão armado. Para o bem e para o mal, o betão.
Ver IR, Cronologia 1980 (inéditos e manuscritos de publicados)
INVENTÁRIO DE RECURSOS QUE SE VÃO PERDENDO - Nenhum silêncio é mais tumular do que aquele que se abate sobre os recursos naturais, físicos e humanos, que o chamado desenvolvimento vai destruindo.
Os IPR de 1980 versam, na sua maioria, essa dialéctica: os recursos vivos que vão sendo destruídos por obra e graça do buldozer do progresso.
Um artigo publicado in «Voz do Povo» e «A Capital», tentava inventariar alguns desses recursos em extinção/destruição:
O outro lado da prosperidade vitivinícola do Bombarral, por exemplo, chama-se Rio Real, esgoto pútrido e malcheiroso, incómodo para as populações.
A região de Setúbal, por outro lado, é apontada como exemplo do crescimento urbano e industrial, aquilo a que muitos chamam progresso e desenvolvimento: ora, todo este crescimento teve o alto preço em várias destruições que se podem patentear aos olhos da população:
a Serra da Arrábida roída pela exploração dos cimentos,
o peixe que fugiu do Rio Sado,
as ostras que desapareceram e eram uma pequena indústria local,
o Portinho da Arrábida que sucumbiu à urbanização selvagem;
as Praias do Sado, um mundo de sapais dantes fervilhante de vida, são hoje um pântano de onde ostras, outrora abundantes, desapareceram e onde ainda, apesar de escassas, se conseguem apanhar algumas minhocas;
as mondas químicas frequentes nos arrozais das margens até Alcácer do Sal, têm ocasionado mortandades maciças de peixes, sem falar dos que desapareceram devido à poluição lenta e insidiosa provocada por grandes unidades industriais de celulose, fermentos químicos, adubos, despejando águas para o Rio Sado.
Ninguém duvidava, por exemplo, que as indústrias de Celulose tinham sido um enorme progresso quando começaram a instalar-se: a outra face da prosperidade celulósica é hoje a tragédia ecológica curiosamente mais ignorada deste país: Portugal deve ser o país com maior densidade de eucaliptos plantados e, casos como o da Serra de Ossa - onde, após a plantação de 11 milhões desses «pepinos celulósicos» sumiu toda a água , toda a vida animal e vegetal, todo o povoamento humano e até toda uma antiquíssima herança arqueológica das mais ricas deste país - é apenas um dos mais dramáticos mas não o único.
Os eucaliptais, a água que eles bebem e as alterações que introduzem no ciclo hídrico em particular e no clima em geral, são assim a outra face da tal prosperidade celulósica. Mas não a única: a outra face, a da Poluição, salta bem à vista e ao cheiro:
na Fábrica de Cacia, que em 30 anos transformou o Vouga no rio mais poluído de Portugal
na Celulose do Tejo, em Vila Velha de Ródão, onde não poucas vezes a mortandade maciça de peixes assinala descargas de poluentes para lá dos limites da precaução
em Viana do Castelo, onde os emissários oceânicos apenas se limitam a transferir para mais longe das águas territoriais as descargas poluentes lançadas pelo Celnorte.
Ver o IPR de
13/12/1980, com inventário de vários casos a revisitar
O LITORAL DESDENTADO: UM RECURSO ESQUECIDO - Outro caso de alterações produzidas nos ecossistemas e portanto nos recursos naturais, verifica-se na costa e é exemplo flagrante na Figueira da Foz.
Construído na Barra da foz do Mondego um molhe que protegesse a saída para o mar de barcos de pesca, sempre em perigo por causa do assoreamento dessa barra, eis que, poucos anos volvidos, temos aí um dos fenómenos mais evidentes de desequilíbrio ecológico verificado no litoral português: enquanto o areal da Figueira de Foz, que já Ramalho Ortigão considerava a mais linda praia portuguesa, aumenta de ano para ano, ameaçando chegar ao Brasil, as praias imediatamente ao sul do molhe, como Leirosa, todos os anos vão ficando, a cada maré mais forte, com um bocado a menos, havendo sempre tragédia a lamentar nas invernias.
Mas o assoreamento da barra, que levou à construção do molhe, que por sua vez levou a todas estas alterações da linha do litoral, é apenas o terminus de uma série de problemas e erros acumulados ao longo de quilómetros e de séculos. Entre as muitas causas de assoreamento do Mondego, conta-se a desarborização que se pratica à doida nas encostas da sua margem; os problemas do assoreamento levaram, por sua vez, à grande obra de Hidráulica que em 1980 se chamava regularização do Baixo Mondego.
Onde está mais esse plano? Foi concretizado? Foi suspenso? Regularizou? Silenciou?
ÁGUA: O PREÇO A PAGAR PELA SOFISTICAÇÃO TECNOLÓGICA - No ano de todos os planos, 1980, notou-se mais uma campanha que depois, para o bem e para o mal, caiu no silêncio:
para o Urânio, o grito de guerra era: «lixiviação dos urânios pobres».
igualmente para as pirites, a palavra de guerra era: «tratamento em leito fluidizado».
Mas o preço a pagar, em ambos casos, por esse grande progresso da nossa economia, era , é e será em Água, recurso natural endógeno cada vez mais escasso.
O ano de 1979 foi de gritos de guerra para os carvões:
«A indústria da Alemanha Federal dispõe já da técnica para obter grandes quantidades de gasolina a partir do carvão.»
De que maneira uma tecnologia sofisticada aumenta na mesma proporção os riscos ambientais, nunca é dito. É silenciado.
Portanto, boa matéria de reportagem sobre os «silêncios que falam», continua a ser «as novas tecnologias ao serviço da economia e do progresso».
Ver IPR, Cronologia 5/7/1980
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS SEMPRE EM FOCO - No âmbito das relações luso-espanholas, há um episódio que persiste com a maior actualidade, mas que foi silenciado desde 1980.
Nesse ano, mais concretamente à volta de 6/Agosto/1980, desde a então Comissão Nacional do Ambiente, à Secretaria de Estado do (mesmo) Ambiente, passando pelo deputado Sousa Marques, do PCP, na AR (Janeiro de 1980), por um editorial de «O Diário» (5/ Setembro/1979) e por vários artigos de engenheiros e doutores, nomeadamente o Dr. Fernandes Forte e o eng. Frederico de Carvalho, também convictos nuclearistas de esquerda, era considerado «ingerência» nos negócios de Espanha toda e qualquer atitude portuguesa relativamente às 3 centrais nucleares espanholas que poluem ar e águas portugueses.
3 centrais de Espanha que , além do mais, despejam água quente para o Tejo, o Douro e o Guadiana.
Segundo todos esses peritos - que abrangem todas as cores do espectro político - as manifestações de protesto quer de autarquias, quer da União dos Sindicatos de Beja (onde está?) , quer da COLBA (União das Cooperativas Livres do Baixo Alentejo - onde está?) ocorridas em Agosto/Setembro de 1979, estariam a concorrer para um grave conflito diplomático com Espanha(???).
As centrais deixaram de poluir? A situação alterou-se? Está tudo na mesma ou pior? Contribuiria para um novo conflito diplomático perguntar aos espanhóis como nos vão indemnizar destes e de outros prejuízos? Há um tribunal europeu para estas coisas? Ou, a nível de UE, também o silêncio e os silenciamentos são a melhor política?
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SILÊNCIOS & SILENCIAMENTOS
TEMAS DE AMBIENTE, VIDA E ECOLOGIA HUMANA
CANADÁ CONTRA O «BAMG» DO CONCORDE - Em
6/8/1980, era noticiado de que uma lei canadiana proibia os voos supersónicos por cima do território nacional do Canadá.
Companhias como a Air France e a British Airways seriam obrigadas a alterar as suas rotas de voo, afastando-se das costas das duas províncias canadianas - Nova Escócia e Terra Nova - cujos habitantes, há anos, se queixavam, do «bang» incomodativo do «Concorde» sobre as suas cabeças e noites, não os deixando dormir, pondo-os nervosos...
Onde está o «Concorde»? Ainda mexe? Ainda incomoda os habitantes de Nova Escócia e da Terra Nova? O ministro canadiano cedeu ou mostrou firmeza? Qual a represália das duas companhias aéreas?
NASCER CADA VEZ MAIS DIFÍCIL - Para o «dossier maldito» das Bactérias-Antibióticos, mais um episódio: O misterioso vírus que em Agosto de 1980 foi detectado nas maternidades de Lisboa e que foi denunciado na imprensa.
Caiu no esquecimento ou no silêncio? Ou foi silenciado?
De facto, torna-se cada vez mais perigoso nascer em Portugal.
Para lá da esterilização voluntária,
da pílula cor-de-rosa,
do planeamento familiar e de todas as campanhas com ar de progressistas e libertadoras da mulher, falta apontar outros dois factores que desencorajam a fertilidade dos casais: não ter onde habitar e o estado tenebroso que as maternidades atingiram, constituindo mesmo este um caso à parte dentro do panorama também tenebroso dos hospitais em geral.
Ver IR, cronologia 1980 (
21/8/1980)
VACINAR O TERCEIRO MUNDO QUE NÃO MERECE MAIS - Tema intrinsecamente relacionado com o anterior, o da vacinação em massa já em1/Dezembro/1980 dava que falar. O director adjunto da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI) proclamava que os habitantes do Terceiro Mundo devem ter cada vez mais acesso a medicamentos e vacinas.
Quinze anos depois, quem vai relacionar esses «cuidados médicos intensivos» com o Vírus do Ebola no Zaire, por exemplo, ou mesmo com o Vírus da sida que se disse, anedoticamente, ter origem no macaco verde do centro africano?
O silêncio sobre as relações entre factos é outro silenciamento em que, jornais e jornalistas, colaboram de boa mente. A falta de memória para o que não interessa lembrar, dá uma grande ajuda.
TEMAS DO SAGRADO
ABORÍGENES CONTRA PROGRESSO - Há episódios exemplares na luta do progresso contra a civilização.
Em12/Agosto/1980, os aborígenes australianos resolveram opor-se à exploração petrolífera que lhes destruía o território e a fonte alimentar.
Segundo o título do jornal «O Dia»
(12/8/1980) «superstição australiana embarga a prospecção de poços de petróleo».
De um lado, a Amax Petroleum Company que perfura tudo o que encontra
Do outro lado, os aborígenes do oeste australiano, os aborígenes da região de Noonkanbach (talvez o povo sobrevivente mais antigo do Planeta, herdeiro directo dos antigos deuses), os lagartos gigantes chamados grandes iguanas (iguais aos que existem na América Central, como lembra James Churchward no livro «O Continente Perdido de Mu»), os australianos brancos que apoiam a luta dos indígenas, os pastores protestantes e, enfim, os sindicalistas que também bloquearam o camião pesado que se preparava para as prospecções.
Para a nossa imprensa progressista, tudo isto eram «superstições» de supersticiosos que consideravam «sagrada» esta inóspita região australiana.
Na Austrália, em
12/8/1980, até os sindicalistas são contra a civilização e o progresso da Amax . São uns supersticiosos que ainda acreditam em «terras sagradas».Têm-nos é negros e no sítio.
Note-se que do ponto de vista estritamente alimentar, os gigantescos iguanas servem de alimento aos que vivem nesse remoto monte de Evian, a 3000 Km de Perth, onde está a sede do sindicato que apoiou e apoia a luta dos indígenas.
Uma história a redescobrir, esta dos aborígenes, contemporâneos dos outros aborígenes que fizeram as gravuras do vale do Côa?
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SILÊNCIOS & SILENCIAMENTOS
RECURSOS AGRÍCOLAS - FIGUEIRA E OLIVEIRA: ÁRVORES MALDITAS NA SERRA DE AIRE - Os recursos agrícolas estão impregnados de ideologia. Quando se proclama em relação a uma espécie que deve ser incentivada ou que deve ser arrancada, os argumentos invocados são (aparentemente) técnicos mas o fundo da motivação é ideológica. A soldo da CEE.
Oliveira, Figueira e Milho - eis 3 espécies na mira do Buldozer do «desenvolvimento», rumo à CEE, conforme a reportagem publicada no semanário «Voz do Povo», em
13/11/1980, sobre o Rio Almonda e a região da Serra de Aire.
Espécie concorrente porque mais industrial: o Tomate, a quem são dispensados todos os louvores e desvelos.
«Quando se quer pôr na lista negra uma cultura tradicional , enraizada, própria de um microclima português, secular e ecológica como a Figueira, nas faldas da Serra de Aire, o mecanismo da ideologia desenvolvimentista é clássico: Durante um ano cria-se escassez artificial (e para criar essa escassez, nada melhor do que congelar preços de modo a que os produtores se sintam desencorajados, não só na safra do ano seguinte mas na perspectiva a médio e longo prazo) , pensando eles (pequenos produtores) se vão ou não acabar com as «malditas figueiras» que «só lhes trazem prejuízo». Desde que o produtor esteja monopolizado por um único canal que lhe escoa o produto (neste caso do Figo, a todo-poderosa Administração Geral do Álcool que sucedeu à corporativa Junta Nacional do Vinho ), ou aceita o preço de miséria que lhe pagam, ou perde a produção, ou vai, de urgência, colocá-la em alambiques particulares, onde o Figo é destilado para aguardente ficando o bagaço para alimento de animais.
Daí que os porcos sejam também abundantes ao longo do rio Almonda.
Sob a monumental lavagem ao cérebro com vista à entrada de Portugal na CEE, até as populações agarradas à terra e às coisas da terra começam a desejar que se acabe com a Figueira, mas também com a Oliveira, com o Milho, com a Vinha, etc.
Na mesma reportagem do semanário «Voz do Povo», a «maldição da Oliveira» na Serra de Aire, está também contada em pormenor.
Porque não há-de ser contada, uma a uma, a história das espécies em vias de extinção por vontade da CEE e dos ideólogos ao serviço de?
Ver IR, Cronologia 1980 (diário de inéditos e manuscritos de publicados )
SOBREIRO E AZINHEIRA: MAIS DUAS ESPÉCIES NA MIRA DA CEE - Escrevia-se nessa reportagem no Almonda:
«Enquanto o coração se me oprimia de ouvir, aos próprios naturais da serra de Aire, «cobras e lagartos» contra o Olival, ia-me passando pela memória idênticas invectivas que, pelo meu querido Baixo Alentejo, ouvi contra o Sobreiro e a Azinheira, quando estávamos em pleno império da CUF que lançava então a grande ofensiva para a plantação maciça de Cártamo e Girassol. Os «montados» eram um empecilho. E até a peste suína africana se «inventou» para dizimar o Porco e acabar assim com a principal razão de ser desses montados: serem pouso e comida de grandes varas suínas».
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